segunda-feira, 18 de junho de 2012

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Relatividade

Parecia um sonho ruim. Daqueles em que você é privado de algo. Correr e não sair do lugar, cair e nunca encontrar o chão, atirar e não acertar...

Ele se sentia preso numa cena de filme mudo, preto-e-branco. Queria falar, queria poder dizer, explicar... mas a voz não saía... 

Não era um sonho ruim e nada o impedia de fazer vibrar as cordas vocais. Mas sentia-se inseguro em ser mais direto. Queria muito poder acenar os braços, como quando se pede carona em estrada vicinal, para ser visível além da poeira. Queria muito poder acenar e dizer "Aqui! Aqui! Eu estou aqui!". Queria muito ser entendido como alguém que poderia fazer a diferença no lugar de quem só causava desconforto ao lembrá-la bons momentos que não passaram de momentos.

Baixou os braços diante da visão turva daquela motorista. 
Não, não desistiu de fazê-la feliz: apenas parou pra pensar nas tristezas que poderiam lhe afligir ao remoer as dúvidas sobre sua possível invisibilidade.

Foi tempo suficiente para ver a poeira baixar e perceber que, na margem oposta, havia outro alguém, também acenando. Acenava para ele. Talvez já há algum tempo, mas ele não havia percebido, absorto em se fazer visível para outras direções.

Enquanto atravessava o terreno irregular, tatuado de tantos rastros perenes, concluiu que aquela viajante poderia lhe dar muito mais força e coragem para seguir adiante, chegar ao destino. E que faria o possível para que, a ela, fosse aquela jornada a melhor empreitada da sua vida.