sábado, 28 de julho de 2012

Coração

O meu é um bobo da corte... mas já está remendado o bastante para não se rasgar novamente.

Os retalhos que são vistos, aparentemente, compoem a roupa colorida e engraçada dos palhaços...Mas são, na verdade, suturas, remendos de todos os rasgões que sofreram...

As tentativas de fazer rir aos que só retribuíram com causas de choro...


sexta-feira, 13 de julho de 2012

Dona Ná


É como voltar ao passado, mas de um ângulo diferente. Confesso que ainda não me acostumei. Mas a sensação é a melhor possível.

Antes, eu lhe segurava a mão, apertava-a, buscando segurança ao atravessar a rua, ao fugir das aglomerações dos centros urbanos, em busca da mesma direção, buscando não me perder dela e de seus cuidados de mãe.

Hoje é ela quem aperta meu braço, temendo todos os movimentos bruscos, aleatórios, confusos, barulhentos e desorganizados da selva de pedra. É ela quem pergunta se é por aqui ou se é por ali... é ela quem pergunta se aquele ônibus, cuja bandeira ainda é ilegível (e pra ela, hoje, mais ainda, por conta da vista cansada de tantas labutas), vindo na linha do horizonte de cinza asfalto, placas e faróis, é o ônibus que precisaremos pegar para voltar pra casa – ou para fugir dela.

Antigamente eu olhava admirado pelas janelas dos coletivos todas as coisas novas, tudo aquilo que eu não via com tanta freqüência ou simplesmente nunca tinha tido a oportunidade de ver. Lia as placas que passavam às ordens das leis do movimento e repouso, tentando capturar todas as informações possíveis antes que ficassem para trás.

Hoje ela é quem cola as mãos nos vidros, com as palmas abertas, fascinada com o balé das ondas no mar, com o farfalhar das árvores nos parques densos (e raros), com a altura, cada vez maior, dos arranha-céus de hoje em dia.

Antes eu via e pedia tudo o que as vitrines podiam me mostrar.

Hoje ela sonha com as coisas que vê e já tem em si a certeza de que terá tudo o que conseguiu me dar quando eu não passava de menino... e as coisas das quais abdicou para ver meu crescimento e felicidade.

Algo me diz que essa inversão de papéis faz parte da lógica da vida e que um dia também me verei frágil e necessitado de proteção novamente, como quando criança. 

E espero merecer o mesmo amor dos meus filhos quando esse dia chegar da mesma forma que ela merece todo esse amor que eu carrego em mim.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Vitamina

Com sangue nos olhos, vagou por todos os alojamentos, comentando sobre as propriedades protéicas da lactose com os demais integrantes da república, na esperança de que alguém lhe desse uma pista do autor do furto do seu leite matinal. Em vão.
Mas o destino foi mais generoso e alguém lhe perguntou:

- O leite era seu?
- Era.
- Desculpe. Fui eu quem tomou...

A raiva o fez sentir maior diante daquele ser, mas pensou que talvez a criatura pudesse realmente estar com fome. Essa reflexão seria capaz de fazê-lo conceder o perdão pelo ato, mas a fala seguinte o arrancou desse estado de ponderações:

- ... mas tava tão ruim que joguei fora!

Técnico Agrícola Júnior Super Saiajin 4