segunda-feira, 10 de março de 2014

Nossos Pedaços

Estabanado que sou, deixei, sem querer, pedaços de mim. No banco traseiro, no retrovisor, na fivela do cinto... no piso da sala, no sofá, no sabonete esquecido, na área de trabalho do seu computador...

Na mente, no coração, na alma...

A saudade, implacável, junta tudo, numa receita semipronta, tempera, assa, desenforma e lhe arremessa em porções cavalares...

Dói, eu sei. Dói porque eu também sinto...

Embora teu físico não tenha me acompanhado, a senhorita, estabanada que é (só podia ser minha irmã) deixou, sem querer, pedaços de si. Na foto, no aroma, na bolsa, no sorriso (e naquela gargalhada desenfreada que lhe fazia balançar em base "frente-e-trás" de um bolero elétrico de cadência 120). No abraço, no beijo estalado na bochecha de manhã, na xícara de leite com achocolatado e no pacote de biscoito de polvilho que fazíamos desaparecer em segundos...
A saudade, implacável, mais uma vez, junta tudo e prova que possui mil e uma maneiras de fazer-se martelar no peito da gente. Meus pedaços deixados são lembranças presentes... teus pedaços de mim levados são memórias reais em formatos abstratos. Mas somos nossos! E a saudade só é tolerável porque ela só se manifesta entre seres que se amam!
Não chore. Lembre-se de tudo o que vivemos, após tantos anos e pense apenas que isso tudo se repetirá. Estás me devendo uma visita. Esperarei ansioso. Volto em breve.

Te amo muito, minha mana linda! Você, a Su e o Dalê! E o pai também! ^^


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Despertar

Encontrara adormecida,
escondida em um casulo
que criara por querência
e pelas topadas da vida.

Se lembrara de suas idas,
das pancadas contra os muros,
das veredas em sequência
até ali seguidas.

Incomodara sono antigo,
mas isso pouco importava:
ela sorria, espreguiçava
todo esse tempo perdido.

Talvez fizesse sentido
o encontro que se dava:
dois solitários, do nada,
encontraram seus abrigos

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Quereres

Se querer bem atrapalhasse
Seria querer mal
E se querer mal fosse amizade

Então seria bom
E seria bem querer...

Seria não temer
E não temer
Seria não ser tolo
Pra saber

Que querer bem
Eh estar perto, junto
Tanto, ligado.

Eh lembrar, esquecer
Ligar, acender
A chama do amor
E da amizade.

Queremos perto quem queremos bem
E queremos bem a quem queremos perto

E bem, pense.
Perto, aceite.

E ligue, chame
De o prazer de sua presença
Não incomode
Como pensa.

domingo, 29 de setembro de 2013

Lições

O que cativa é a tua essência,
poucos são os que percebem
na tua fonte vão e bebem
de você sua existência

Mas te querem outro ser
e com o tempo te refazem,
se arrependem disso (e, pasmem!)
choram o antes de você


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Sem Lança e sem Cavalo


Cavaleiro de andanças fictícias
navegador de mares inexistentes,
andarilho das sombras desconhecidas,
sou capitão e pirata e me acostumei tanto
a andar sem termo e rumo,
que não preciso de selas e de bússolas...

Mas sei por intuição livrar-me de obstáculos
que se escondem entre o perigo e a astúcia
e por qualquer descuido matam-me...

Se me faltam entretanto o cavalo e a lança,
os moinhos e os ventos sou eu mesmo...

E porque às vezes me convenço, outras vezes não,
toco a rir de mim mesmo... fazendo tréguas
ao coração sem compasso e régua.


segunda-feira, 29 de julho de 2013

Guerreira

Nascera distante, a oeste baiano.
Criara-se em roça, ela e mais sete.
Crescera expiando os pecados dos filhos alheios,
Que a toda sorte de molecagem lhe faziam cair-lhe
Perdera a mãe aos seis e a irmã que ela lhe daria
Seguiu como acreditava que deveria
Sem incomodar e sem reclamar
Processando mágoas e esquecendo-as
Virara mãe com planos feitos,
Mas a vida foi mestre em mudá-los de curso
O do meio seguiu-lhe o perfil –
Se tão bom não se sabe –
O mais novo foi mais forte.
Vivera para a família e por ela sofrera
Sem, porém, arrepender-se
Respirara o frio da terra da garoa
E dele protegera a razão de sua vida
Chorara escondida a cada sensação
De impotência e incapacidade,
Mas secara o rosto a cada vez que lhe era visível
A altura das mudas que na terra plantara
Desistira dos asfalto por gosto terceiro
Pra roça voltara sem muita esperança
Mas cuidara tão bem das suas crianças
Que tão logo os vira na vida letrados
Um se apartara – os estudos dobrados
O outro lhe dera um neto bem lindo
Uma nova razão de viver vinha vindo
E o gosto em viver sentia voltando
Se contares os dias que vivera chorando
Ainda assim lhe dirá em resposta
Que feliz ela foi nessa vida vivida
Da forma escolhida e nos trilhos eleitos


segunda-feira, 22 de julho de 2013

Simplicidade

Fiel ao seu jeito manso,
Sempre muito resolvida com a simplicidade das coisas,
rendeu-se, sem perceber, à modernidade dos tempos.
Depois do celular,
Embora às turras com agendas e contatos,
Aprendeu extenso código que a punha, na distância, mais perto de mim.
Um toque, sua foto,
E tão logo descubro que uma canção a trouxe saudades minhas
Fiel ao seu jeito manso,
Ela prova que a simplicidade das coisas é o maior avanço da humanidade.