sexta-feira, 13 de julho de 2012

Dona Ná


É como voltar ao passado, mas de um ângulo diferente. Confesso que ainda não me acostumei. Mas a sensação é a melhor possível.

Antes, eu lhe segurava a mão, apertava-a, buscando segurança ao atravessar a rua, ao fugir das aglomerações dos centros urbanos, em busca da mesma direção, buscando não me perder dela e de seus cuidados de mãe.

Hoje é ela quem aperta meu braço, temendo todos os movimentos bruscos, aleatórios, confusos, barulhentos e desorganizados da selva de pedra. É ela quem pergunta se é por aqui ou se é por ali... é ela quem pergunta se aquele ônibus, cuja bandeira ainda é ilegível (e pra ela, hoje, mais ainda, por conta da vista cansada de tantas labutas), vindo na linha do horizonte de cinza asfalto, placas e faróis, é o ônibus que precisaremos pegar para voltar pra casa – ou para fugir dela.

Antigamente eu olhava admirado pelas janelas dos coletivos todas as coisas novas, tudo aquilo que eu não via com tanta freqüência ou simplesmente nunca tinha tido a oportunidade de ver. Lia as placas que passavam às ordens das leis do movimento e repouso, tentando capturar todas as informações possíveis antes que ficassem para trás.

Hoje ela é quem cola as mãos nos vidros, com as palmas abertas, fascinada com o balé das ondas no mar, com o farfalhar das árvores nos parques densos (e raros), com a altura, cada vez maior, dos arranha-céus de hoje em dia.

Antes eu via e pedia tudo o que as vitrines podiam me mostrar.

Hoje ela sonha com as coisas que vê e já tem em si a certeza de que terá tudo o que conseguiu me dar quando eu não passava de menino... e as coisas das quais abdicou para ver meu crescimento e felicidade.

Algo me diz que essa inversão de papéis faz parte da lógica da vida e que um dia também me verei frágil e necessitado de proteção novamente, como quando criança. 

E espero merecer o mesmo amor dos meus filhos quando esse dia chegar da mesma forma que ela merece todo esse amor que eu carrego em mim.

Um comentário:

  1. Qual?! Como sempre uma maravilha, meu amigo! E, eu tenho certeza que, os teus filhos retribuirão a todo esse amor que um cia, certamente, você dará a eles.

    AMEEEI! Um beijo,

    Flor de Jasmin. ^^

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